Quando nasce a sequência de um filme tão apreciado e respeitado como é o caso de "Blade Runner" (1982), surgem muitas questões e especulações do tipo "Será que conseguirá manter ou elevar o nível potencial da obra?", Blade Runner 2049, cumpre este papel e consegue manter o nível técnico e intelectual do filme original.
O que de mais bonito temos aqui é o visual, a cinematografia deste filme é impecável, Roger Deakins é o diretor de fotografia que acerta a mão 10 vezes de 10, e aqui não tinha como ser diferente, é feito upgrade visivelmente funcional, cores em momentos específicos ajudam a refletir emoções, o inicio mais preto e branco predominante, que se refere à segurança dos fatos pelo ponto de vista do protagonista, e isto vai mudando ao longo do filme, azul para o desconhecido demostra a frieza e as incertezas sobre o real, a falta ou ausência de emoções, o laranja para emoções mais humanas, alerta do perigo, descobertas que afloram sentimentos. Tudo isso combina perfeitamente com uma direção de arte que se preocupa em recriar o universo do primeiro filme com atualizações de si mesmo de forma que o espectador, já conhecedor deste universo sinta essa evolução de forma natural.
Sinopse: Trinta anos após os acontecimentos do primeiro filme, a humanidade está novamente ameaçada, e dessa vez o perigo pode ser ainda maior. Isso porque o novato oficial K (Ryan Gosling), desenterrou um terrível segredo que tem o potencial de mergulhar a sociedade no completo caos. A descoberta acaba levando-o a uma busca frenética por Rick Deckard (Harrison Ford), desaparecido há 30 anos.
Ryan Gosling é o protagonista K, seu personagem possui camadas que exigem muito do ator, e Gosling consegue passar verdade e emoção com poucos diálogos. O diretor Denis Villeneuve, faz um excelente trabalho de direção de elenco, todos estão muito bem em cena, Dave Bautista é um personagem com pouco tempo de tela, mas eficiente e com certeza o melhor da sua carreira. Ana da Armas tem um papel que me lembrou o filme "Her" (Ela, 2014), é um personagem com um peso simbólico muito grande, que tem seu arco completo com começo, meio, fim e conclusão extraordinária.
O vilão de Jared Leto é misterioso, sua motivação é quase religiosa, uma incrível participação que pede mais tempo em tela. Há vários personagens neste longa, muitos com papéis pequenos, todos são extremamente importantes, não há sobras e nem atuações medíocres, todos estão empenhados e dão o melhor de si. Os diálogos são muito claros, apesar das mensagens da visão existencialista, fica claro o que o filme quer dizer e o que seus personagens dizem sobre si mesmos. O roteiro é inteligente e altamente reflexivo como não podia deixar de ser, trata claramente sobre memórias, qual é a relação que temos com nossas memórias, o quão elas são significativas e reais, senão moldadas por nossas experiências e emoções. São questões discutidas que nos faz carregar este filme conosco por horas, ou para vida toda.
Há alegorias e metáforas, o longa com quase 3 horas de duração, é lento sem ser enfadonho, para quem já se acostumou ao ritmo do filme original, não irá estranhar aqui. A trama proporciona questionamentos reais, como escravidão, a evolução da tecnologia, o sentido da vida e morte, e conceitos sobre o que é ser humano, criador e criatura. A filosofia se repete, mas de maneira um pouco mais suave do que o filme original, talvez porque já esperamos por isso. A proposta, apesar de características de filmes policial, de detetive neo-noir, este é um sci-fi, que discute questões intelectuais, exigente como no filme de 1982, no entanto está longe de ser uma cópia, ou um "remake", como aconteceu com outras sequências, este longa é uma expensão daquele universo, com novos e ainda antigos personagens, mas que entrega uma experiência nova, com questionamentos já conhecidos, porém atualizados de maneira original.
Se antes eu achava que "Blade Runner" (1982) não precisava de uma sequência, hoje eu saí do cinema com outro ponto de vista, este filme se faz necessário, não só para os fãs do filme original, mas para as novas gerações de fãs do bom cinema. Talvez, tornar-se-á um novo clássico da ficção científica, tudo indica que sim.
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